Pânico

Pânico

Li algures na net que hoje é Dia Internacional do Pânico. CALMA!!! Não é para perderem a cabeça e ficarem já todos a “panicar”, pelo contrário! Este dia é uma boa oportunidade para nos afastarmos do stress do dia-a-dia e encontrar formas de combater os ataques de pânico, cada vez mais comuns. Em conversa com algumas amigas minhas, todas já tiveram pelo menos um episódio destes na vida. Acreditem que não é nada agradável.

Podia mais uma vez falar da minha ansiedade, mas optei por dar voz a uma amiga minha que sofre de claustrofobia e que luta todos os dias contra esse medo. Pedi que escrevesse um pouco sobre isso, e como essa fobia afecta a sua vida.


Não sei de onde vem esta fobia, só sei que vivi toda a vida com ela. O primeiro ataque de que me lembro foi na Expo 98, tinha eu 11 aninhos. Nunca mais me esqueci. Foi no Pavilhão da Suécia, onde havia uns “ovos” onde entrávamos e onde estava simulado o tempo em cada uma das estações do ano, como é vivido na Suécia. Ora, estes “ovos” eram fechados. Não fazia ideia do que era claustrofobia, mas mal entrei no primeiro, senti o ar a fugir-me, o coração a acelerar, o pânico a tomar conta de mim. Quando as portas fechavam, só voltavam a abrir cerca de dois minutos depois, e foram dois minutos infinitos. Não conseguia pensar, só gritava enquanto todas as outras pessoas que lá estavam dentro olhavam para mim como se fosse louca e a minha mãe me tentava acalmar.

Pronto, sou claustrofóbica. Muito mesmo. Evito espaços fechados como bares e discotecas – já perdi a conta ao número de vezes que, numa saída à noite com os meus amigos, acabo por me ir embora por não aguentar estar nestes sítios que normalmente não têm janelas. A música muito alta e as luzes também não ajudam quem tem ataques de pânico. Elevadores, só ando se tiver mesmo de ser – “Ai é no 4º andar? Vou de escadas.” Metro, bem, o metro foi uma luta. Ando todos os dias mas tenho de ir concentrada num livro ou até mesmo no telemóvel, se olhar para fora da carruagem fico logo com suores frios. E às vezes, até em situações que à partida não seriam claustrofóbicas. Por exemplo, mesmo que seja na casa duma amiga, com janelas e luz, se a porta por acaso não abrir à primeira, o meu coração dispara. Andar no banco de trás de um carro que só tenha duas portas, até isso não é fácil, porque não consigo sair assim que quiser. Festivais, concertos, espaços com muita gente, a mesma coisa. Basta o pensamento “epa… Se quiser sair daqui agora será complicado” passar pela minha cabeça, e está tudo estragado.

Acho que o que tenho é mesmo isso, não é necessariamente pavor de espaços fechados. Às vezes tenho ataques de pânico em espaços abertos também. É mesmo a questão do “não conseguir sair facilmente”. É horrível. Não consigo descrever a sensação, mas parece que vou morrer e por mais que o meu cérebro pense “tem calma, não se passa nada”, às vezes custa a passar.

Infelizmente depois também há a questão dos “amigos”. Na adolescência, conheci pessoas que praticamente gozavam comigo por não querer ir a discoteca X ou a sítio Y, por causa disto. Tinha vergonha deste meu problema, e sentia-me mal com isso.

Hoje em dia, a claustrofobia é algo que afecta a minha vida, sem dúvida, mas já não me sinto mal por a ter. Já não tenho vergonha. Aceito-me como sou e, como tu Jessica dizes, isso não quer dizer que não faça um esforço por melhorar e lutar contra os meus “fantasmas”. Faço-o, todos os dias. Mas ao mesmo tempo aceito que isto faz parte de mim e sou feliz comigo própria.

Se esta história tem uma moral, é exactamente essa. Todos nós temos defeitos, problemas, coisas que podíamos melhorar. Mas para isso é preciso primeiro aceitarmo-nos como somos, e seguir a partir daí. Foi isso que eu fiz, e hoje em dia a claustrofobia faz parte de mim, mas não me define. Eu, sou eu. E gosto de mim assim.

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